O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
(Aldir Blanc e Maurício Tapajós)
O saudoso trocadilho em língua
inglesa Brazil, que vai ao título e à
epígrafe que inauguram a proposta desse artigo, é, além de provocativo, um
gatilho mental estético-político. Na memória, temos a reminiscência da ilustre
interpretação da música Querelas do
Brasil, que ficou imortalizada na voz de Elis Regina. É considerada pela
crítica uma das letras mais geniais de Aldir, pois essa própria composição é um
trocadilho em relação à composição Aquarela
do Brasil. Podemos encontrar no contexto da letra de Aldir uma crítica ao
estereótipo da avarenta ideia de aculturação que sempre rondou o nosso país; como
também, da interferência estrangeira, seja ela estético-cultural, territorial
ou econômica. Ou seja, a questão sempre foi geopolítica. Na sociedade
brasileira de 2020, vivemos uma decadência apresentada em números cada vez mais
alarmantes. Os dados divulgados no boletim Desigualdade nas Metrópoles mostram
que houve uma queda de até 32% na renda dos cidadãos mais pobres nas principais
metrópoles brasileiras. Temos, aqui, o primeiro impasse a ser pensado: o Brasil
já esteve em situação pior?
Algumas fontes internacionais, como a
Varkey Foundation, indicam que o Brazil é o país que mais desvaloriza a
profissão de ser professor. Como é que o Brazil,
que necessita tanto de educação e que em 2011 chegou a ser a 6ª economia e
apresentado ao mundo como uma nova potência, alcançou esse triste patamar atual:
desvalorizando a educação, a ciência e voltando à margem da miséria?
Pensar apenas por meio de um viés
binário de direita versus esquerda é limítrofe. Para bom entendedor, sabemos
que o Brasil, economicamente falando, sequer chegou perto de um governo de fato
de esquerda. Isso é mito! Ou que nos encontramos nessa atual situação por culpa
de um projeto socialista e/ou comunista de governos passados. Na história
econômica do país, é evidente que o pacto sempre foi com o capital e com a
elite global financeira. Trazer as narrativas binárias e os fantasmas
conceituais – completamente invertidos – como socialismo e capitalismo para o
cenário político brasileiro, é a prova de que a capacidade cognitiva de leitura
da própria realidade foi comprometida por engenharia memética. “O meme
venceu!”. Diante desse cenário, o segundo impasse a ser pensado é: existe uma
solução para o Brasil voltar a ser grande?
Por que não aprendemos observando o
que aconteceu recentemente ao nosso redor, como na Bolívia? O governo de Evo
Morales se desgastou e acabou não conseguindo mais articular com outras
lideranças. Como consequência, os cidadãos pagaram um preço por causa da
permanência no poder que perdurava desde o primeiro mandato, de 2006. Recentemente,
o atual presidente Luis Alberto Arce assumiu o poder na Bolívia e comunicou que
Evo Morales não terá aproximações políticas. É uma questão de estratégia
semiótica: imagem desgastada não gera acordos e negociações.
Se o acordo é e sempre foi com base
no poder do capital financeiro, nossos ex-presidentes que entregaram um Brasil
grande, 6ª economia mundial, não poderiam ter feito algo parecido: a transição
do poder, por meio de um viés progressista? Será que estaríamos em outro
patamar?
Hoje, o meme do antipetismo venceu.
Isso é engenharia memética. Em uma terra onde não existe uma liderança forte,
qualquer narrativa bem articulada se cria. O trabalho de alguns anos realizados
por meio de um protoprojeto de nação que chegou a enaltecer o Brasil no Brazil, se esfarelou sem transição de poder.
Viramos satélite. Mas qual era o simulacro: os cidadãos queriam apenas mudança,
mas ela veio da pior forma. Seria muito megalomaníaco pensar em um projeto de
nação, fechado com o povo, de longo prazo, pensando nos próximos 100 anos? Para
que isso seja um dia possível, urge a união entre as principais lideranças do
país e um acordo com a própria elite financeira. Um acordo em que todos possam
manter a balança equilibrada. Um pacto de longo prazo. Não seria a hora de buscarmos
o tão aclamado projeto de uma nação unida, forte e soberanamente representada,
como insiste incansavelmente Mangabeira Unger? Está na hora de falarmos This is Brasil, pois só há o Brasil!
Gustavo Luiz Gava. Filósofo. Doutor em Filosofia da Mente. É professor na Universidade Positivo.
Antonio Djalma Braga Junior, filósofo e historiador, doutor em Filosofia pela UFPR. Atualmente é professor de ensino superior, Diretor do Instituto Smart CIC e criador do Canal do Djalma (Youtube).